Vereador pode ser cassado após denunciar segregação racial em creche de São João Batista (SC)
Único vereador negro de São João Batista pode perder o cargo após denunciar divisão racial em salas de aula de uma creche. Caso virou alvo do Ministério Público, mas o pedido de cassação é contra quem teve coragem de falar.
Teodoro Adão, único vereador negro da cidade, está na mira de um pedido de cassação depois de denunciar a divisão de crianças brancas e negras em salas diferentes no Núcleo Infantil Cebolinha, em São João Batista, no Vale do Rio Tijucas. A denúncia, feita em fevereiro, gerou investigações e movimentou entidades sociais, mas agora quem corre o risco de perder o mandato é justamente quem teve coragem de apontar o problema.
No último dia 10, uma moradora protocolou na Câmara o pedido de cassação do mandato de Teodoro por suposta quebra de decoro. O motivo? Ela alega que teve um áudio divulgado sem autorização, no contexto da denúncia. A gravação era uma manifestação de apoio à fala do vereador — apoio que ela diz ter se arrependido depois. A Prefeitura, por sua vez, afirmou ter apurado o caso internamente e negou que tenha havido segregação intencional, embora a organização das turmas tenha levantado questionamentos.
Reações e mobilizações
A denúncia ganhou repercussão nacional e levou o Ministério Público a investigar o caso. A Central Única dos Trabalhadores (CUT-SC) classificou o episódio como “apartheid em tempos modernos”. Já a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) cobrou apuração rigorosa.
“A separação de crianças por cor da pele numa creche pública é uma prática inaceitável. É inadmissível que o denunciante seja punido enquanto os responsáveis seguem impunes”, declarou a CUT-SC em nota pública.
Teodoro Adão segue firme: disse estar tranquilo e com a consciência limpa, e que seus advogados acompanham o caso. A Câmara ainda vai decidir se aceita o pedido de cassação.