“Santa Catarina não acolhe todo mundo”: vídeo de casal vira caso de MP
Casal conservador de SC causa revolta ao dizer quem “deveria ou não” morar no estado; eles já haviam sido criticados por vídeo com teor racista em fevereiro
Em um vídeo digno de manual do bom e velho preconceito, um casal de influenciadores de Pomerode (SC) decidiu decretar quem pode — e quem não pode — viver em Santa Catarina. O conteúdo, que viralizou nas redes, virou caso sério: o Ministério Público agora investiga o vídeo por possível xenofobia e incitação à discriminação.
Regras de quem, pra quem?
Na gravação, Jenifer Milbratz e Cleiton Stainzack distribuem “regras” para quem deseja morar no estado. Entre os vetos: defensores de “ideologia de gênero”, da “agenda woke” e de “assistencialismo estatal”. Um verdadeiro edital de exclusão. O tom? Aparentemente sério, com um leve perfume de superioridade regional.
O vídeo rodou o país — mais de 5 milhões de visualizações — e gerou indignação quase instantânea, especialmente quando internautas apontaram que a própria Jenifer teria recebido auxílio emergencial na pandemia. Mas parece que o “assistencialismo” só é ruim quando é dos outros.
Viral, revoltante e reincidente
Essa não foi a primeira vez que o casal decidiu militar ao contrário. Em fevereiro, os dois já haviam causado polêmica com um vídeo batizado de “Como fazer um bebê alemão”, acusado de racismo por reduzir identidade à aparência física. Agora, voltaram ao centro do debate com a ideia de que “Santa Catarina não é para todo mundo”. E fazem questão de deixar isso bem claro.
Quem tá por trás e quem reagiu
Jenifer, de 32 anos, se apresenta como ex-feminista e conservadora convicta. Cleiton, também de 32, se diz cristão e empreendedor. Ambos vivem em Pomerode, cidade famosa por sua herança germânica e onde mais da metade da população fala alemão.
A resposta institucional veio da vereadora Ingrid Sateré Mawé (PSOL), de Florianópolis, que formalizou denúncia ao Ministério Público.
“Migrar dentro do Brasil é um direito constitucional, não é favor nem concessão de quem se acha dono de terra alheia”, disse ela.
A acusação? Incitação à xenofobia e discurso discriminatório, especialmente contra migrantes do Norte e Nordeste.
Liberdade de expressão ou crime?
A discussão levanta uma velha dúvida: até onde vai a liberdade de expressão e onde começa o discurso de ódio? Ao ditar quem é “bem-vindo” ou não, o casal reforça estereótipos regionais e dá voz a um preconceito silencioso — mas bastante presente — contra quem vem “de fora”. E isso, felizmente, pode ter consequências.
Ministério Público na escuta
O caso está sendo analisado pela 40ª Promotoria da Capital, que apura se houve crime contra minorias e violação de direitos constitucionais. Se a investigação avançar, o casal pode enfrentar desde responsabilização civil até sanções penais.
Por enquanto, a única certeza é que o vídeo ultrapassou as fronteiras do bom senso — e agora, talvez, da legalidade também.