Já chega!

Pra cima dela(s), não!

Tentou calar no botão — agora quem responde é ele mesmo, e na Justiça.
Tihh Gonçalves
Ilustração criada com IA sob direção criativa e prompt da Rocket Produtora Digital.

Há quase 1 ano, mais especificamente na fatídica noite de 11 de junho de 2024, foi palco de um dos episódios mais controversos da política recente. Durante uma sessão da Câmara, a então vereadora (hoje prefeita) estava na tribuna quando foi abruptamente interrompida. O motivo? Eu diria (e pelo visto a Justiça também) que foi por ser mulher.

A cena foi assim: ela contrariou a fala de um colega anterior e o chamou de “mentiroso”. A plateia reagiu. Aliás, o Plenário naquela noite estava eufórico, excitado. Foi assim com praticamente todos os vereadores que falaram. Mas só com a Juliana teve corte, censura e dedo no botão. Ela foi a última a falar — e a única silenciada.

Quem comandava a sessão cortou o microfone dela e encerrou a sessão. Foi seco, frio, autoritário. Como se estivesse desligando a luz de um cômodo que incomoda. Como se calar mulher fosse mecanismo de ordem — e não o machismo estrutural de uma Casa que ainda trata mulher como intrusa. Nenhum outro vereador foi interrompido, nenhum teve a palavra cassada. Só ela. Porque quando é mulher falando alto, vira desrespeito, baixaria, é vulgar… Quando é homem gritando, é “posicionamento firme”. Sei…

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A sessão terminou como não poderia: sem debate, sem respeito, sem coragem. E com a única mulher da legislatura calada à força — ao vivo, pra todo mundo ver.

Saiu do plenário

A imagem correu pela TV Câmara e pelas redes sociais. Juliana foi cobrar explicações, e a presidência da Casa levantou da cadeira e saiu do plenário, enquanto o público gritava “covarde! covarde!”. A reação foi motivada pelo fato de ela ter sido interrompida justamente por estar fazendo o que os demais faziam: falar, discordar, reagir. Só que, no caso dela, era mulher. E isso — parece — foi o suficiente pra incomodar. O episódio terminou com o então presidente deixando o local escoltado por PMs e Guardas Municipais.

Juliana saiu da Câmara direto para a delegacia, acompanhada do marido e da filha. Uma noite que começou com o microfone cortado e terminou com boletim de ocorrência, pedido de proteção e a certeza de que não deixaria o caso passar em branco.

Virou réu

Dias atrás, a Justiça deu um passo importante: a denúncia foi aceita pelo Ministério Público e o então presidente da Câmara se tornou réu por violência política de gênero. Se condenado, pode ficar inelegível por até oito anos. O episódio segue marcado, mas o encaminhamento judicial pode se tornar histórico.

Respeite elas!

“Foi um ato de censura e de violência simbólica, travestido de ordem institucional”, declarou Juliana na época, com a firmeza de quem já sentiu na pele — e na marra — o que é ser mulher num ambiente que ainda confunde poder com autoritarismo.

E isso não é só sobre ela. É sobre todas as mulheres que são interrompidas, silenciadas ou desacreditadas quando ocupam espaços de poder. A sessão da Câmara de BC mostrou, em transmissão pública, que ainda há resistência à presença feminina firme nesses espaços.

Que fale mais alto, mais firme e com eco

Juliana venceu. Não só porque virou prefeita, mas porque mostrou que voz de mulher não se cala. Não mais. E cada fala interrompida agora encontra uma multidão pra continuar dizendo.

Se o comando da Câmara achava que dava pra desligar mulher como quem desliga microfone, agora vai ter que conversar na marra com outra do gênero feminino, a senhora Justiça — e lá, meu caro, você não tem um botão pra suspender a sessão.

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