O país que pune quem denuncia e protege quem erra
Glauber quase perde o mandato por apontar corruptos, enquanto Zambelli segue blindada mesmo presa na Itália.

Sexta-feira chegou, mas não há descanso quando o país decide virar notícia em modo contínuo. Glauber Braga quase perdeu o mandato por fazer exatamente aquilo que deputados deveriam fazer: apontar corruptos. Ele não caiu por invenção, ataque gratuito ou teatro. Quase caiu porque tocou onde dói, porque abriu a janela para o cheiro que muitos fingem não sentir. A punição nunca é para quem rouba. É para quem expõe.
Do outro lado, Zambelli segue fora do país, presa na Itália, mas aqui dentro ainda é tratada com luvas de cetim. Deputados que jamais moveram um dedo para defender democracia se movimentam agora para defendê-la. Ninguém tem pressa em cortar o cordão umbilical que liga a extrema direita ao poder. O Brasil político é eficiente quando quer proteger uma das suas. E Zambelli, mesmo distante, continua sendo uma delas.
Enquanto Glauber é triturado por mostrar o que está errado, Zambelli é acolhida por representar o que muitos ainda desejam manter vivo. A dissonância não é acaso. É método. Um país que pune a denúncia e premia o delito cria sua própria lógica de sobrevivência. A lógica é simples: falar a verdade ameaça mais do que cometer o crime.
E assim chegamos à sexta com aquela sensação amarga de que o jornal sempre pesa mais no fim da semana. A política brasileira funciona como esses armários antigos que rangem, mas nunca caem. A madeira apodrece, mas a porta segue no lugar. A poeira acumula, mas ninguém limpa. E todo mundo finge que é normal.
O leitor toma seu café, respira fundo e tenta entender como um parlamentar quase perde o cargo por coragem, enquanto outra mantém influência mesmo atrás de grades em outro continente. Nada disso é incoerente. É o espelho do país. O problema é que o reflexo já não assusta. A gente olha e reconhece.
Sexta-feira costuma ser o momento de aliviar o peso da semana. Aqui, é quando a verdade aparece com mais nitidez. O Brasil vive num paradoxo: quanto mais evidente o escândalo, mais confortável ele se torna para quem lucra com a confusão.
Café, amigos e sinceridades. A semana termina, mas o roteiro continua. O Brasil não descansa. Os culpados também não. E quem fala demais continua sendo o maior risco para quem prefere que tudo permaneça como está.
Receba cafés fresquinhos de informação — notícias leves, rápidas e sempre quentinhas.
Entrar no grupo






