Casa de Música completou recentemente 8 anos em Camboriú e já transformou mais de 700 vidas
Da sala de casa ao coração da cidade, o projeto que começou com 30 alunos realiza hoje 44 aulas por semana e transforma vidas com arte e inclusão.
Tudo começou com um sonho. Não um desejo de alguma coisa, um sonho literal. Nele, Raquel via crianças aprendendo, salas com nomes e sons, e uma clareza que só a fé consegue explicar.
Era 2017. A sala da casa virou sala de aula. Os móveis eram empilhados pra fora todos os dias. Depois das aulas, voltavam pra dentro. Assim, de segunda a sábado, com trinta alunos, dois professores adolescentes e uma bateria doada, a Casa de Música nasceu. Aos poucos, os vizinhos entenderam que ali se fazia algo maior do que barulho.
O que nasceu com improviso e fé foi crescendo. Com o tempo, o projeto virou referência em Camboriú. Hoje, oito anos depois, a Casa de Música é muito mais do que uma escola. É um ponto de acolhimento, pertencimento e transformação. Mais de 700 alunos já passaram por ali. Muitos deles entraram em silêncio e saíram com voz, ritmo e sonhos.
Dias difíceis, recomeços e fé
Mas toda boa história tem uma pausa. E a da Casa de Música veio em 2019, quando a justiça determinou a retirada da família da casa. “Veio a máquina e derrubou tudo. A gente perdeu tudo”, conta Raquel. Instrumentos foram guardados em casas de amigos. A estrutura improvisada virou poeira.
A dúvida apareceu. Continuar ou parar? A resposta veio do mesmo lugar do sonho. “Você vai continuar mesmo sem nada ou vai parar?”, ela ouviu. E não parou. Alugaram uma nova casa. Pagaram Uber por meses para que as crianças pudessem continuar frequentando as aulas. A cada obstáculo, uma reinvenção. A cada lágrima, um novo propósito.
Números que contam histórias
Atualmente, são 44 aulas por semana. O projeto atende, em média, 250 pessoas por mês. Já passaram por lá mais de 700 alunos. Alguns se tornaram músicos, outros professores. Dois ex-alunos viraram parte da equipe docente. Um deles se casou, outro está na faculdade de música.
Mas os números não contam tudo. Porque a transformação da Casa de Música não é medida apenas em alunos formados, mas em histórias que mudaram de rumo.
Cristian e tantas outras notas
Entre esses alunos está Cristian, um menino autista que chegou ansioso, hiperativo, sem espaços adequados de inclusão. “Hoje, ele passa o dia com o violão. Sonha em ser professor da Casa de Música”, conta a mãe, emocionada. “A música expandiu a mente dele, deu foco, responsabilidade. Eu oro todos os dias por esse projeto”, completou, com os olhos marejados.
E não é só ele. São dezenas de crianças que chegaram carregando traumas, medos, palavras duras. E encontraram no violão, no canto, na escuta, um lugar de cura.
“A gente ensina técnica, sim. Mas a gente quer ativar neles algo que às vezes nem eles sabem que têm. Mostrar que pertencem a algum lugar, que têm um dom, uma missão”, diz Raquel.
Mais que música: acolhimento
A Casa de Música também organiza festas de Dia das Crianças e Natal, distribui cestas básicas, material escolar e realiza ações sociais em parceria com o Instituto Rogério Rosa (Embraed), Liga do Bem e outras instituições locais.
O reconhecimento institucional também veio. “É um privilégio ter essa instituição em nossa cidade”, escreveu Felipe Ponte, presidente da Fundação Cultural de Camboriú.
O grande sonho da Casa de Música hoje é uma sede própria. Um espaço que comporte mais salas, mais modalidades, mais sonhos. Um lugar onde uma criança possa sair da aula de canto e entrar na de percussão, depois pintura, depois dança. Onde a estrutura não limite o que a missão já provou ser possível.
“Hoje a gente funciona das 9h às 22h, uma aula atrás da outra. Nosso maior desejo é um lugar nosso, que comporte o que a gente já é e o que ainda podemos ser”, resume Raquel.
Mulheres, fios e oportunidades
Além das aulas de música, a Casa também passou a oferecer cursos de macramê para mulheres da comunidade. A primeira turma se formou em 2024 e foi celebrada com emoção. “Foi um dos momentos mais marcantes do ano”, escreveu o projeto nas redes.
Durante o curso, as alunas também participaram de palestras voltadas ao empreendedorismo e mercado de trabalho. Hoje, algumas seguem ativas, como a Vanusa, que continua produzindo e vendendo suas peças na feira da praça de Camboriú. A Célia, outra participante, venceu o primeiro lugar no edital “Identidade Cultural”.
Assim como os instrumentos e vozes das crianças, os fios e nós das mulheres também tecem sonhos por ali.
Assista ao documentário
A história virou documentário. Mas continua sendo escrita todos os dias.
Aproveite e siga também o projeto no Instagram: @projetocasademusica
Camboriú pode não ter uma sede própria para esse sonho ainda, mas já tem um solo fértil onde floresce o que há de mais urgente: amor que ensina, arte que transforma.
E o som que ecoa dali não é só música. É resposta.
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